terça-feira, 19 de abril de 2011

Desabafo

É muito difícil expor preocupações sinceras quando se está em uma fase em que as coisas não caminham bem, pois somos humanos e tendemos a exagerar, contaminados por uma certa depressão, um certo mal estar. Estamos vivendo hoje um período de escolha dos caminhos que a nossa Universidade deve tomar nos próximos 4 anos e a escolha deve ser isenta, com base em fatos que sugiram fortemente uma melhor probabilidade de não errarmos. No entanto, as coisas não andam bem.

                Os que me conhecem há muitos anos sabem que me dediquei à Instituição em todos os níveis, inclusive com presença nos colegiados e em alguns cargos, e, percorri todas as etapas acadêmicas até a conquista da titularidade. Dediquei-me durante 32 anos ao Hospital Universitário, meu local de trabalho, onde prestei serviços de atendimento em ambulatório. Há cerca de 10 anos passei a advogar a causa da inserção do treinamento de nossos alunos em atenção básica, o que considero minha missão atual, mantendo, no entanto as atividades de ambulatório no hospital até 2010. Sinto-me contaminada por um clima de desalento, alimentado por quilos de entulho não removidos após a destruição de parte do prédio. Sinto-me abandonada quando passo pelas enfermarias fechadas e instalações mal conservadas, fatos que têm sido a realidade do hospital nos últimos anos.  Pode parecer pouco importante para alguns, mas para mim é parte de minha vida.

                A criação de um complexo hospitalar que transfere parte dos recursos financeiros e humanos do Hospital Universitário para a Reitoria, que centraliza a informação e se apropria das condições de gestão da Instituição, me parece um fator complicador que agrava suas possibilidades de recuperação e nos deixa órfãos. É evidente que olhares diversificados enriquecem o julgamento das questões acadêmicas, dos rumos das instituições e de suas relações com a sociedade, e, portanto, deve ser definido por colegiados paritários. No entanto, a despeito do maior respeito que tenho por todas as Unidades hospitalares da UFRJ, me é absolutamente claro que, em um sistema, onde uma parte produz quase 80% dos recursos, a gestão deles não pode ser paritária. Me parece insuficiente o auxílio prestado pela reitoria, no que se refere ao pagamento de luz, água e segurança (feito a todas as unidades da UFRJ) e o pagamento e controle do pessoal extra-quadro (feito com parte dos recursos gerados pelo hospital). É também tímida a defesa, feita pela Reitoria, nos foros governamentais que têm a responsabilidade de atuar na manutenção e desenvolvimento do Hospital. É urgente e necessário que o candidato escolhido tenha ciência e valorize estas questões, que são cruciais para todos nós da, me parece Faculdade de Medicina. O compromisso do candidato, apoiado por esta Reitoria, em relação ao Complexo hospitalar insuficiente, limitado a uma simples revisão da estrutura sem indicar uma direção específica.

                Preocupa-me também a morosidade da Reitoria na questão da aplicação dos recursos do projeto Reuni, particularmente em relação aos novos cursos, incluindo o curso médico de Macaé. A despeito da tremenda expansão dos recursos de custeio, ocorrida nesta gestão, graças à adesão a projetos governamentais como este, é fato que as aquisições de materiais para os cursos foram feitas de forma inadequada. Como exemplo, as resinas para preparo de peças anatômicas, foram solicitadas em agosto de 2008 e adquiridas apenas em 2010. Desta forma, o curso médico está até hoje dependente do transporte semanal de peças do Rio para Macaé. O mesmo se diga da aquisição de microscópios e de material de laboratório. Estes fatos têm gerado prejuízo aos alunos e ações na justiça de parte do alunado, conforme anunciado pela imprensa. Embora reconheça a lisura e compromisso do candidato apoiado pela Reitoria, é importante lembrar que a gestão e aplicação dos recursos foi de sua responsabilidade enquanto Pro Reitor de Desenvolvimento e Finanças.

                Finalmente, me parece pouco transparente a aplicação dos recursos tanto os decorrentes das  cessões de áreas do campus do Fundão quanto dos projetos governamentais aos quais a UFRJ aderiu. De um lado, o enfoque tecnológico da UFRJ me parece cada vez mais claro, quando constatamos a incrível extensão das áreas do Campus do Fundão cedidas à Petrobrás. Por outro lado, o campus Macaé foi gerado, basicamente, pelas Unidades do CCS, com seus cursos de Biologia, Medicina, Nutrição e Enfermagem, havendo pouco investimento dos recursos no CCS, tendo em vista que as obras de instalações de laboratórios e prédios de Macaé foram custeadas pela Prefeitura local.

                Choco-me com a indiferença. A indiferença das autoridades universitárias, que parecem ignorar que somos o melhor curso de graduação em medicina do país e que temos mais de 200 anos de tradição nessa formação; que conquistamos, mais recentemente, a duras penas, a consolidação da Pós Graduação. Somos, de fato, um orgulho para a UFRJ.

                Diante deste quadro manifesto-me favorável a uma alternativa à candidatura de Godofredo Oliveira Neto, solicitando aos colegas que compareçam às urnas nos próximos dias 25, 26 e 27.

Vera Lucia Rabello de Castro Halfoun
Professora Titular de Clínica Médica - Atenção Básica
Faculdade de Medicina - UFRJ

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